O ideal não existe .... acho que nem o Amor ....
"Disseste-me, um dia, que o ideal no amor seria este terminar da maneira tão fácil como começa.
E, no entanto, nunca é assim, nunca foi assim, jamais será assim. É muito difícil terminar de maneira fácil.
Connosco as nossas vidas começaram a apartar-se no dia em que mantivemos silêncio sobre as coisas que nos importavam.
Passou tanto tempo, desde que, pela primeira vez, nos conhecemos e nos deixámos dominar pelo fogo de uma paixão que não se anunciou e a que rapidamente cedemos.
Tanto tempo, desde que, pela primeira vez, nos descobrimos nus, deixando as roupas abandonadas, em desordem, na impaciência de nos abandonarmos um no outro. Na pressa de nos darmos e de sermos recebidos.
Tanto tempo depois daquele amor feito. Do sossego depois do rebuliço. Do meu coração a querer sair de mim e onde só o teu rosto pressionando o meu peito, feito tua almofada, pareceu impedir.
Tanto tempo depois daquele doce aconchego, onde o meu mundo se resumia a um desejo de ti. De te cheirar, de te ouvir, de te ver, de te tocar, de te sentir e de sentir que só assim a vida faz todo o sentido.
De sentir que nada é demais no amor, porque quando se ama nada é exagerado e tudo parece pouco.
E agora faltas-me...
Faltas-me mesmo quando, a espaços, voltas, exigindo não haver exigências ou requisitos. Dizendo que voltas pelos momentos. Anunciando que voltarás de livre vontade se te deixar ir livremente. Que desejarás regressar se mantiveres o desejo.
Faltas-me mesmo quando retornas ao local, onde já não moras mas onde ainda vives e que é um local de solidão.
E voltas à confusão que é a minha vida; um desalinho parecido às nossas roupas espalhadas pelo chão, depois de, novamente e mais uma vez, apenas o desejo ter sido satisfeito.
Faltas-me porque te amo sem te ter. Porque habitas dentro do meu pensamento sem que te possa pensar. Porque ergues fronteiras ao amor e estabeleces os limites da paixão
Faltas-me porque vives em mim através da lembrança de ti. Preciso de esquecer-te para que se arrumem as memórias contigo mas sofro a cada vez que me esforço, porque são essas recordações o que me resta de ti.
Se sem ti a vida já me parece vivida pela metade, sem a lembrança de ti, sinto que serei um corpo vazio cujo conteúdo foi retirado. Um espaço oco cheio de nada. Um local onde nada ocupa o teu lugar.
E vivo neste tumulto de mim comigo, porque sempre que me queres, eu quero, quando me descartas, eu coloco-me de lado. Vivo pelas tuas vontades, sem vontade própria. Usas-me sem me amar e eu amo-te sem saber como te aproveitar.
Sinto falta da vida que não consigo descobrir sem ti e apenas vou existindo e perdurando.
E sempre que partes, sei que cada despedida é um regresso adiado e será um retorno sem futuro.
by Paulo Gonçalves Ribeiro